Acabei há algum tempo de ler este livro hiper-interessante para todos aqueles que, como eu, foram ‘fãs’ do programa espacial norte americano no início dos anos 80.
Foram os anos do Columbia e do Challenger, e mais tarde do Discovery e do Atlantis. Ainda não tinha acontecido o 28 de Janeiro de 1986, com a trágica explosão do Challenger. Ainda se vivia uma ‘idade da inocência’, na NASA e no mundo, e todos acreditávamos na imagem que a NASA ‘vendia’ de um sistema de transporte espacial completamente ‘operacional’. Essa palavra, ‘operacional‘, seria uma que apenas dois acidentes mais tarde se concluiria que não se ajusta (ainda?) a um programa de exploração espacial.
O livro, que é de certa forma autobiográfico, descreve a vida do autor Mike Mullane, que foi astronauta no Space Shuttle em 3 missões, desde o momento em que a sua paixão pelo espaço nasceu - no momento em que o Sputnik foi lançado - com uma breve passagem descrevendo a sua carreira na Força Aérea - que o autor responsabiliza pelo seu ponto de vista machista da sociedade - e seguindo depois para a a sua selecção para o Corpo de Astronautas da NASA em 1978, e participação em três missões do Space Shuttle.
A melhor parte do livro é precisamente a descrição que faz da primeira missão em que participou, por coincidência a primeira do Space Shuttle Discovery, a STS-41D, e da grande amizade que se formou entre a tripulação dessa missão, e em especial com a astronauta Judy Resnik (que mais tarde faleceu no acidente do Challenger).
Foto oficial da tripulação da missão STS-41D
Foi essa amizade que, segundo Mullane, lhe mudou a opinião super-machista que tinha do mundo, e o fez ganhar um respeito cada vez maior pelos seus colegas não-homens e não-militares-de-carreira. No meio de muitas piadas chauvinistas, que algumas pessoas do sexo feminino poderão não apreciar, mas que o autor constantemente relembra serem o resultado da sua educação exclusivamente entre homens, vemos a história de uma vida e de um sonho que se realizou, escrita de uma forma que me fez práticamente não ser capaz de largar o livro - na realidade eu raramente acabo os livros que começo a ler!
As inúmeras vezes em que Mullane se refere à sua colega e amiga Judith (Judy) Resnik fazem-nos dar conta que por detrás das fotografias dos astronautas existem vidas reais e pessoas perfeitamente comuns, com alguns defeitos e muitas qualidades, como todos nós. A imagem que nos surge desta astronauta é o de uma profissional competente e dedicada à sua profissão, discreta e humilde, o que inevitávelmente desperta em nós uma simpatia maior por sabermos que anos mais tarde viria a morrer com apenas 36 anos na explosão do Space Shuttle Challenger.
A astronauta Judy Resnik, à esquerda, e Mike Mullane,
durante os treinos para a missão STS-41D
Depois do enorme destaque dado à sua colega Judy Resnik, Mullane dedica também um capítulo à sua esposa, que, no fim de contas, foi quem mais sofreu para que o seu marido pudesse viver o seu sonho, e quem mais o apoiou. Não pude deixar de pensar se esse capítulo não foi ali posto um bocado para que as pessoas não pensassem ‘então este Mike e esta Judy não fizeram nada juntos ;)’ Era um bocadinho demais escrever uma coisa dessas… O autor nega, mas pelo que nos diz, a ideia entre os astronautas da NASA é que os dois teriam tido um ‘caso’… Bom, não que isso nos interesse… Não temos nada a ver com isso…
Mike Mullane com a sua colega e amiga Judy Resnik,
durante os treinos para a missão STS-41D
O livro é assim muito mais humano e interessante do que se fosse apenas um relato ‘jornalístico’ das missões em que o autor participou, defeito de muitos livros deste tipo. O que ressai deste livro são as amizades que se formaram (e algumas inimizades também), o fascínio de voar no Espaço, e em segundo plano, as missões.
Recomendo muito vivamente este livro. Só por si redespertou o meu interesse pelas missões espaciais (que de vez em quando adormece um pouco). Está disponível em vários locais, e na Internet, por exemplo no Amazon.com. Se o comprarem no Amazon sugiro que o mandem vir do Amazon.co.uk, porque demora só uns dias a chegar! As encomendas dos EUA demoram semanas.
Judith (Judy) Arlene Resnik
5 de Abril de 1949 - 28 de Janeiro de 1986
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